Fanfic: Sherlock Holmes + Conto novo

Queridos, leitores, como vocês estão? 

Depois de um sumiço básico (mas não por tanto tempo como já aconteceu), volto com duas novidades: 
Primeira (e que você já pode conferir agora mesmo): em 2014, comecei a escrever uma fanfic do Sherlock Holmes, planejei tudo, mas só tinha escrito até o capítulo 4 e publicado no fanfiction.net. Pois agora decidi voltar com a fanfic, terminar de escrevê-la se tornou uma ideia irresistível depois de começar a ler contos do Sherlock Holmes quase todos os dias. Para começar a leitura, clique no link no link: O Mistério do Fabergé Proibido 
Os capítulos serão postados aos sábados à noite.

Segunda: tem conto novo chegando por aí! Dessa vez é um policial, será postado a partir da semana que vem aos domingos à noite. 

Boas leituras, 

Luiza.

#Promoção: De férias no King Edgar Hotel!

Fim de ano só pode significar uma coisa: férias! E que tal aproveitá-las com a estada em um hotel bem peculiar?
Pensando nisso, o Only The Strong Survive uniu-se ao Delírios do Gato Preto para trazer essa promoção em dose dupla para os nossos leitores!
Serão dois exemplares autografados da coletânea King Edgar Hotel da qual nós duas, Luiza e Verônica, somos co-autoras. Não deixe de aproveitar a oportunidade e, de quebra, de saber um pouco mais sobre o desafio literário do Delírios do Gato Preto, documentado pelo IG do blog, @deliriosdogatopreto! Também confira o Only The Strong Survive, uma fofura de blog em que há resenhas de milhões livros de gêneros variados!


Vamos às regras?

A fotografia (parte III - final)

Boa noite, leitores! Como prometido no último post, aqui está a a terceira e última parte d'A fotografia :) (leia a parte I e a parte II)

Essa parte é a maior parte do conto, até pensei em dividi-la em duas, mas já temos fragmentos demais por aqui, não é mesmo?

Se divirtam! E não esqueçam de deixar suas opiniões!

A fotografia (parte III - final)

— O quê? — perguntou Mariana, com alguma dificuldade.
As batidas pararam repentinamente.
— O cara da foto está morto. — disse Henrique.
Mariana revirou os olhos e levantou as mãos para o alto, aquela afirmação era tão obvia, qualquer um daquele tempo já havia morrido, seu namorado deveria sofrer de um retardamento mental, não era possível.
— Ele está morto aqui! — Henrique aumentou o tom de voz. — Essa é a foto do corpo dele.
Mariana olhou fixamente para o jovem por alguns segundos e, prendendo a respiração, pegou a foto das mãos dele. Aqueles olhos, inexpressivos e inchados a encaravam, seus ombros estavam rígidos, sua pele, pálida. Por que ele estava ali naquela foto? Era por isso que ele ainda estava no mundo dos vivos? Como ele se sentia agora, frustrado? Com raiva? O que os mortos poderiam fazer aos vivos?
Sentindo-se tomar pelo pânico novamente, Mariana respirou fundo. Tinha de haver algum jeito de acabar com tudo.
— Bom, então é ele que está assombrando a gente. Peguei essa foto com a Júlia, estava na caixa de joias da bisa dela.
— Você fala isso como se fosse a coisa mais simples do mundo!
— É só rasgá-la e acaba tudo.
— Não! — gritou Henrique, arrancando a foto de Mariana. — Talvez ele fique preso aqui, sei lá! Acho que devemos procurar ajuda profissional.
— Ajuda profissional? Onde?
— Amanhã a gente vê, estou muito cansado agora e parece que o cara vai dar algum sossego pra gente.

***

— Como assim? — Júlia arregalou os olhos e se levantou para olhar a foto que estava sobre a mesa da praça de alimentação da faculdade.
— Não vai acontecer nada se você a tocar. — informou Henrique, impaciente com aquela situação.
— Sabe, a gente poderia ir à fazenda ver o que o pessoal sabe. Essas histórias sempre são contadas entre os empregados.
— Meu, a fazenda fica a uma hora daqui, eu estou no meu horário de almoço, a Mari tem estágio...
— Mor! Olha, minha chefe é bem compreensiva...
— “Clarisse? Sou eu, Mari. Olha, tem um fantasma me assombrando e vou investigar sobre ele, por isso vou faltar no serviço, beijo!” — replicou Henrique, imitando a voz de Mariana.
— Para com isso. Vou falar que estou com problemas em casa e que preciso resolvê-los.
— Excelente desculpa. Se você não quiser ir com a gente, pode ficar procurando essas pessoas aí, aquelas que mexem com espíritos e tal. Compare os preços, tem cigano muito careiro por aí. — falou Júlia, pegou rapidamente sua bolsa e colocou os óculos escuros. — Vamos?
Henrique apenas cruzou os braços e as observou sair

***

— Parece que agora já era mesmo. — constatou Antônio descendo as escadas depois de tentar consertar o ar condicionado.
Todos no escritório suspiraram, desanimados. Henrique tirou o celular do bolso, nenhuma mensagem das garotas, irritado, resolveu passear pela sala, talvez pegasse um café, mas não estava com vontade. 
— Como você consegue? Está tão quente aqui e você aí, andando de um lado para o outro e, agora, pegando café!
Marlene era sempre assim, por que ela simplesmente não fica apenas o dia inteiro no Facebook vendo as vidas felizes dos outros, por que ela tem que prestar atenção em um colega de trabalho aleatório? Henrique lhe lançou um olhar de desprezo, que pareceu não afetá-la, e voltou a sua mesa.
Abriu a janela do Google Chrome, demorou alguns instantes para digitar qualquer início de palavra, por fim escreveu: fotos assombradas. O resultado foi péssimo, encontrou milhões de sites citando a Menina do Corredor, achou até graça, fazia muito tempo que não ouvia ninguém comentando sobre aquela história, mas, depois de um tempo passando os olhos por links vazios e sensacionalistas, decidiu apelar e pesquisar por ciganos, também não obteve resultado.
Frustrado, ele se levantou outra vez, pegou outro copo de café e fingiu não ver os olhos impressionados de Marlene.
— O que você procura? — perguntou Marlene, sua voz parecia um tanto desafinada, provavelmente estava com medo de uma segunda rejeição.
O jovem se virou lentamente para a colega, pediu a Deus por paciência, achou até engraçado pensar em Deus naquele momento confuso.
— Eu sei que você está preocupado com algo que não é deste mundo. — finalmente ela ganhara sua atenção. — Não tenho habilidades muito avançadas, sinto algumas presenças invisíveis, mas não faço contato. Minha prima é uma sensitiva excelente, ela pode ajuda-lo.
— Podemos vê-la quando sairmos? — de repente, sentiu-se culpado por julgar Marlene, ela poderia ser uma fofoqueira, mas no fundo era uma boa pessoa.
— Mas é claro!

***

— Bom, foi uma história de amor super dramática, linda e triste! — comentou Mariana, ao sentar-se atrás do banco do motorista, Marlene ocupava o banco do passageiro da frente.
— Linda e triste mesmo! Tudo começou quando a bisa estava voltando de Santos e o motor do carro pifou ou coisa assim, vai saber, esses carros de antigamente eram tão ruins que nem sei como andavam...
— Andem logo com essa história, não preciso de detalhes, só das informações objetivas. — interrompeu Henrique, impaciente.
As garotas se entreolharam aborrecidas, era uma história ótima para se contar, cheia de detalhes que contribuiriam para transmitir as emoções, fora por isso que Mariana e Júlia passaram duas horas na fazenda, conversando com Joana, a cozinheira. Contudo, o espírito de Joaquim parecia desesperado, talvez ele não suportasse mais a pior prisão em que um ser humano poderia ficar ou então talvez houvesse um tempo limite para que ele pudesse ser liberto, algo que poderia estar em um filme de suspense.
— A bisa era filha de um... homem de negócios, podemos dizer, muito rico. Claro que era esperado que ela se casasse com um homem rico que pertencesse a uma família tradicional para poder manter o sangue azul. Mas ela conheceu Joaquim, ele era ajudante do açougue da cidadezinha do lado, eles se apaixonaram perdidamente e começaram a ter um caso escondido. Depois de um ano, os dois não aguentavam mais, eles tinham que viver juntos e felizes para sempre! Eles planejaram a fuga com muito cuidado, mas um dos empregados da casa da bisa descobriu os planos e contou para o pai dela. Joaquim foi forçado a se mudar para uma fazenda perto de Cuiabá, passando a trabalhar para um colega do pai dela.
— Então ele não era tão mau! — exclamou Marlene, esperançosa como se tivesse esquecido o fim trágico do espírito de Joaquim.
— É, poderia ter sido pior, mas, naquela época, viajar de lá pra São Paulo era difícil, principalmente pra quem era pobre. O pai dela esperava que eles nunca mais se vissem e, como estava tirando Joaquim de seu emprego e o mandando para um lugar desconhecido, nada mais justo do que dar um emprego para ele. — comentou Mariana. — Continuando, a bisa da Júlia se casou alguns meses depois, com o filho de outro colega do pai dela, tiveram apenas um filho, como a sociedade esperava deles. Quase 15 anos haviam se passado quando ela e Joaquim se encontraram novamente.
— Ai meu Deus! Como foi isso? — perguntou Marlene, virando-se para que pudesse ver as garotas no banco de trás.
Henrique estacionou o carro ao lado de um terreno vazio, com o mato alto e contido por uma cerca de arame. Todos desceram do carro e Marlene apontou para uma casa pequena e verde que aparentava mal cuidada e desgastada.
— Ele mesmo voltou a São Paulo atrás dela. — respondeu tardiamente Júlia, ao parar na frente do portão da casa indicada. — Conseguiu descobrir o nome de casada da bisa e seu novo endereço. Ele apareceu lá de repente, deve ter sido muito emocionante! Ela o contratou como jardineiro e passou a morar numa casinha que ficava dentro da propriedade. Meu bisa sabia do caso, ele era tranquilo, acho que ele também tinha sido um frustrado no amor. Acontece que a felicidade não durou quase nada, oito meses depois, Joaquim pegou pneumonia e morreu, mesmo com todos os cuidados que os bisas puderam oferecer. A bisa ficou extremamente abalada, exigiu que tirassem uma foto dele dentro da sala de estar da casa dela, queria um registro de que eles realmente voltaram a ter a presença um do outro.
— E ele acabou se tornando uma alma penada que, supostamente, só consegue passear pelo mundo em um raio de 20 metros de onde a fotografia está.
Todos, exceto Marlene, viraram-se assustados para a mulher que estava parada atrás deles, à princípio aparentava ter surgido do além, mas logo viram que ela carregava uma sacola de pães. 
Ela e Marlene poderiam ser tidas como gêmeas, mas Marlene era gorda e estilosa, enquanto a prima, magra e desleixada. A casa reflete o dono, pensaram todos, automaticamente.
Entraram na casa e se sentaram à mesa da cozinha, Cintia, a prima de Marlene, arrumou a mesa, colocou os pães em uma cesta e os deixou no centro, ofereceu chá e sucos às visitas.
Mariana olhou para Henrique, seu olhar estava confuso e começou a balançar a perna direita freneticamente para cima e para baixo. Também confuso, Henrique se pronunciou.
— Então você sabe por que viemos aqui.
— Sei, sei muito bem, parece que não estão muito dispostos a fazer um lanchinho, não é? — Cintia suspirou e olhou para sua diagonal, atrás do jovem. — A fotografia...
Henrique a deu para Cintia, que olhou novamente para a diagonal, provavelmente Joaquim estava ali. Ela a olhou, depois olhou para todos os presentes, levantou-se.
Ouviu-se um barulho de papel sendo rasgado. Cintia caminhou até o lixo e lá jogou o que sobrara da fotografia.
— O que você fez? — gritou Júlia, chocada e levantando-se em um salto, mas setando-se novamente, aflita.
— A fotografia não interfere em nada! — Cintia aumentou o tom de voz. — Espíritos não ficam presos ao mundo por causa de fotos tiradas quando morto. Esse tipo de foto era moda antigamente.
Ela olhou para o espaço vazio.
— Você ficou aqui porque achou que deveria ficar perto de Heloísa. Quando ela morreu, ela, que não possuía nada que a prendesse aqui e acreditando que te encontraria do outro lado, passou para o outro mundo. Sabe por que você não foi junto? Porque você não aceitou a sua morte e colocou a culpa na fotografia, você mesmo se convenceu de que ela o prendia aqui. Não posso fazer nada por você. Você deve descobrir o seu caminho por si mesmo, fique a vontade para rondar por aí.
Todos permaneceram imóveis, até que Mariana se levantou lentamente, como se estivesse em transe.
— Vamos?
— Como assim? — perguntou Henrique.
— Ué, não temos mais o que fazer, é o psicológico dele que o está mantendo aqui.
— Talvez devêssemos chamar um padre para exorcizar o Joaquim. — sugeriu Júlia, ainda sentada, mas tremia visivelmente.
— Não tem que chamar padre, farei uma terapia com ele. Ele não entende o que está acontecendo ou não acredita.

***

Mariana e Júlia estavam assistindo ao Are you the one? quando Henrique entrou na sala completamente eufórico.
— Aqui! O fechamento do nosso caso! — ele falou erguendo o celular para o alto.
Ele deu o celular à Mariana, as duas leram o email que era exibido pela tela:
Não se preocupem com o Joaquim. Tivemos conversas e discussões muito sérias nos últimos três dias. Depois de um passeio ao lugar que falecera, Joaquim finalmente entendeu a morte. Tenho fé de que agora ele está em paz e com a Heloísa do lado dele.
Abraço,
Cintia. 

A fotografia (parte II)

Boa noite, caros leitores, como vão? 

Finalmente chegou a segunda parte do conto A fotografia (leia a primeira parte aqui). Espero que vocês gostem (e não se esqueçam de dar seu feedback)!

A fotografia (parte II)

A segunda-feira começou normalmente para Mariana. Não teve tempo para tomar café da manhã com Henrique, seu namorado, com quem dividia a pequena casa, que ficava bem exprimida entre dois prédios residenciais. Assistiu às aulas na faculdade, almoçou sanduíche enquanto tagarelava com Sabine e chegou tranquilamente ao seu estágio de aprendiz de restaurador de obras de arte. 
              − Semana que vem vamos mudar de museu. É um bem pequenininho, de bonecas. - anunciou Clarisse, sua chefe. 
Uau! Deve ser super interessante! Que tipo de bonecas? - respondeu Mariana, ainda distraída ou retocar o que deveria ser uma pincelada preta em uma pintura a óleo. 
− Bonecas do século XIX. Aliás, seu celular não parou uma vez sequer essa tarde. 
− Verdade? Que estranho, não estou esperando nada. Depois eu vejo, deve ser trote.
Às seis horas, quando finalmente saiu do museu, Mariana consultou o celular: Nada mais, nada menos do que 113 ligações perdidas de Henrique, além de várias mensagens perguntando onde ela estava e se poderia sair mais cedo.
Preocupada, foi para a casa o mais rápido possível, nem passou na padaria apesar de estar morrendo de fome.
Encontrou Henrique sentado na caçada do outro lado da rua com uma expressão emburrada.
O que aconteceu?
Por que você não atendeu o celular? Onde você estava?
− No estagio! Você sabe disso e sabe que não atendo o celular lá também. É anti-profissional. 
Henrique revirou os olhos, irritado e cansado. 
A casa tá cheirando mal, tipo, podre! Não dá pra ficar lá dentro.
Mariana decidiu não fazer perguntas, indo diretamente a casa. Ao chegar, não sentiu cheiro algum. Sinalizou para Henrique, querendo dizer que ele poderia entrar sem problemas. 
 − Ué? − murmurou confuso. − Juro que tava horrível aqui! Eu até vomitei ali na lixeira do prédio lá! 
Não sei o que foi, mas relaxa que já passou. 
Os dois saíram para jantar comida japonesa e voltaram uma hora depois. Felizmente, a casa continuava normal, nenhum cheiro podre, nenhum animal morto ou objetos quebrados. 
Vem, vamos assistir a algum filme, sua tarde foi muito ruim. − convidou Mariana.
− Mas nenhum filme longo, você sabe que amanhã eu tenho que ir a empresa.
Escolheram Tudo pela Fama, era um filme engraçado e leve. O cheiro misterioso e o fato de ter passado a tarde toda dando voltas no quarteirão, lendo um livro muito chato que pegara emprestado (e que ia ser abandonado se não fosse por toda a situação), havia deixado Henrique exausto e mal humorado, mas agora tudo tinha passado, estava com Mariana, beijando cada gotinha que tinha respingado durante o trabalho dela. 
O filme terminou, Henrique continuou deitado preguiçosamente no sofá da sala, enquanto Mariana se levantou em um salto para tomar banho antes de ir para cama. 
Toc, toc. 
Os jovens se entreolharam. 
− Foi na janela? − perguntou Mariana em voz baixa.
Henrique se levantou e pegou o taco de baseball escondido atrás de um dos armários da cozinha.
Toc, toc, toc.
As batidas eram ritmadas, como se fosse um código que Mariana não conseguia compreender.
Henrique caminhou de forma mais silenciosa possível até a porta da cozinha, sairia por lá e surpreenderia qualquer um que estivesse ali. Quando abriu a porta, um vento muito frio atravessou seu corpo e, suando frio, respirou fundo e pôs-se a mover com passos largos e lentos.
Toc, toc, toc, toc.
Ele estava chegando perto do indivíduo, conseguia ver sua sombra.
Toc, toc...
Henrique não esperou mais, saltou em direção à sombra e ao barulho.
Não havia nada e ninguém estava ali.
Confuso, Henrique analisou a grama do jardim, em busca de pegadas, olhou para a janela, não soube se ficava feliz por saber que ele e Mariana não estavam loucos ao ouvir as batidas ou se ficava com medo por ter certeza de que elas eram reais, a única coisa que ele sabia era que a janela estava suja de terra.
Olhou tudo a sua volta, mas não havia nada para ver. Entrou pela cozinha e trancou a porta, tinha medo do que havia acontecido. Mariana estava sentada à mesa, esperando por explicações, ele contou o que havia visto.
— O dia já foi estranho o bastante. Vamos pra cama, isso se nós conseguirmos dormir.
Tomaram chá de camomila para se acalmarem, verificaram se todas as janelas e portas estavam fechadas e trancadas, por precaução, também trancaram a porta do quarto.
***
Eram três da madrugada quando Mariana levantou para buscar um copo d’água. Ela estava cansada e sonolenta demais para lembrar com clareza das coisas estranhas que haviam acontecido no dia anterior.
Pegou um copo de vidro no armário, enquanto o enchia de água, olhou para frente, para a janela da cozinha. Com uma exclamação silenciosa, deu um passo para trás e deixou o copo cair no chão, espatifando.
Um homem a encarava, ela não conseguia enxergar seus traços com clareza, apenas seus olhos, que pareciam imensamente tristes e desesperados. Por alguns segundos ela pensou em abrir a porta e lhe oferecer ajuda, não poderia deixar aquele homem lá fora.
Toc, toc.
A mão do homem bateu na janela. Mariana deu passos para trás, em busca do caminho de volta.
Toc, toc, toc.
Ela se virou para voltar para o quarto e acordar Henrique.
Toc, toc, toc, toc.
Ela não conseguia mais respirar, o pânico a dominava. No entanto, de alguma forma, ela conseguiu entrar no quarto e trancar a porta.
Henrique levantou da cama e foi em direção a Mariana, que correu para perto da cômoda, ficando distante da porta e da janela. Ela estava tremendo e não conseguia falar sobre o que havia visto.
Toc, toc.
Dessa vez, as batidas vinham da porta de madeira do quarto. O mundo pareceu parar.
Toc, toc, toc.
Mariana gritou e bateu as costas na cômoda, fazendo com que um papel caísse lentamente no chão.
Toc, toc, toc, toc.
Henrique se agachou e pegou o papel, que, na verdade, era uma foto.

— Mari, por que você tem uma foto post mortem?

*** Fim da parte II ***

King Edgar Hotel (antologia)

Boa tarde, meus queridos leitores, como vão vocês?

Ansiosos pela segunda parte de A fotografia? Infelizmente não será hoje que ela será postada, mas fiquem atentos, pois, na próxima quarta-feira, a segunda parte estará bem fresquinha por aqui!

Hoje venho falar da antologia King Edgar Hotel, da Andross Editora, na qual meu conto, Constance, se encontra no quarto 67. Essa antologia foi um projeto especial, anunciada na 4ª edição do Livros em Pauta. Cada conto se passa em um quarto diferente do estranhíssimo hotel e foi criado especialmente para a antologia (o que significa que os contos que estavam na gaveta continuaram lá).

As bonecas foram presente da vovó quando eu e minha irmã éramos crianças. Estão lindas como modelos, né? Foco no livro!!!

Sinopse: Você se hospedaria em um antigo hotel onde a camareira não tem braços, o mensageiro não tem olhos e o recepcionista aparenta ter idades distintas dependendo da hora do dia? Você ousaria pernoitar em um lugar cujo regulamento interno é estranhamente diferente de tudo o que você já viu? Muitos mistérios rondam o King Edgar Hotel. Fique à vontade para visitar os 21 andares deste lugar, que é a expiação dos pecados para uns, o inferno para outros e uma lembrança macabra para todos os que por ele passaram.

Modéstia à parte, King Edgar Hotel está incrível! Toda a equipe da editora, os organizadores e todos os autores se dedicaram ao máximo para fazer um trabalho bem especial.
Há muitos tipos de contos na antologia, podemos encontrar aqueles que são mais suspense, os que são de investigação, os que tratam da loucura, de espíritos e até aqueles que são bem sangrentos. Resumindo: terror e suspense para todos os gostos.

Para mim foi uma honra poder participar do KEH, trabalhando mais uma vez com o Alfer Medeiros, que sempre consegue arrancar de mim o melhor que tenho a oferecer como escritora, também foi ótimo experimentar trabalhar com a Lara Luft, que, juntamente com outro companheiro de hotel, fizeram marcadores marcadores lindos para acompanhar a antologia. Além disso, nessa antologia podemos encontrar o conto de uma das minhas melhores amigas, Verônica Cocucci Inamonico (do Only The Strong Survive), coincidentemente o conto dela vem logo depois do meu!

Ficou interessado/interessada? Entre em contato pelo e-mail luiza.canto@outlook.com para adquirir seu exemplar!


Em breve teremos uma super novidade no blog, fiquem de olho!

A fotografia - parte I + KEH

Bom dia, queridos leitores! Depois de muito tempo com apenas um conto aqui no blog, finalmente teremos mais um! Decidi dividi-lo em partes para ficar mais fácil para aqueles que só querem dar uma passadinha rápida por aqui e não ficarem muito perdidos na hora de voltar à leitura. 

E mais uma coisa: os que acompanham a página do blog pelo facebook devem estar se perguntando, mas e a antologia da Andross, King Edgar Hotel, que seria lançada dia 19/05? Ela foi lançada!!! Porém, não pude comparecer ao evento, então estou na espera dos exemplares aqui em casa! Dizem que que está incrível e, assim que eles chegarem, farei um post especial para quem estiver interessado em adquirir algum exemplar, aguardem :D 

Agora vamos ao que interessa:


A fotografia - parte I

− E aí? Como você está? – perguntou Mariana ajeitando seus cabelos vermelhos em um coque no topo da cabeça enquanto entrava na casa da melhor amiga.
− Sei lá, me sinto estranha... – respondeu Júlia a caminho de seu quarto. – Eu nunca fui tão próxima da minha avó e, tipo, ela me deixa uma super caixa de joias!
O quarto de Júlia não era um dos mais organizados, na verdade, Mariana tinha quase certeza de que era o quarto mais bagunçado que já havia entrado. Havia roupas espalhadas pelo chão, não se sabia se elas estavam sujas ou limpas, pilhas de livros sob a cômoda (e o que não cabia da cômoda, também ia para o chão), fotos das duas e de outros amigos espelhadas pelas paredes. A cama de Júlia ficava no centro do quarto, com uma das extremidades encostada na parede.
Sentaram-se na cama e Júlia pegou a caixa de joias que estava sob o criado mudo. Era uma caixa de madeira trabalhada em detalhes trançados, provavelmente feita à mão, as partes de metal estavam desgastadas e rangeu quando a caixa foi aberta.
Lá dentro continha vários colares e brincos de pérolas, fazendo com que as jovens soltassem exclamações e com que seus olhos brilhassem fascinadas pelas joias. Também poderiam encontrar alguns brincos delicados com pedrinhas de rubi e um colar de esmeralda.
Passaram a próxima hora inteira experimentando as joias e fazendo piadas uma com a outra. O pai de Júlia as chamou para fazerem um lanche da tarde, parecia um domingo bem tranquilo.
− Já experimentamos todas as joias? – perguntou Júlia ao voltarem para o quarto.
− Acho que sim. – respondeu Mariana olhando para a caixa com mais atenção. – Ei, não parece que tem um fundo falso ali?
Júlia riu. Mariana parecia sempre ver coisas além da realidade, ela nunca aceitava que a vida real era monótona e sem grandes aventuras. No entanto, para deixar a melhor amiga tranquila, resolveu averiguar o fundo da caixa que, para sua surpresa, possuía um fundo falso.
− Ah. – suspirou Júlia meio decepcionada e esperando uma decepção ainda maior por parte de Marina. – São só duas fotos de um cara sem graça.
− Posso ver?
Júlia entregou as fotos à Mariana.
Ela pegou uma foto em cada mão, uma parecia razoavelmente mais velha que a outra. Na mais antiga, o homem era jovem, portava roupas da década de 1930, seus cabelos negros estavam bem ajeitados com a ajuda de muito gel e ele segurava um chapéu claro, que deveria ser da mesma cor que o terno, com a mão esquerda. Ele parecia bem feliz e simpático. Na segunda, datada de 1944, ele estava sentado em uma grande e aparentemente confortável poltrona, ele tinha um aspecto doente, seus olhos pareciam meio inchados, meio saltados para fora, e sua boca estava semiaberta, embora seus cabelos continuassem bem arrumados e suas roupas apresentavam uma qualidade melhor do que na primeira foto. 
− Joaquim, fevereiro de 1944. – leu Mariana em voz alta.
− De onde surgiu esse cara? Ele não é meu bisavô, já outras fotos dele antes, pra você saber a diferença, meu bisavô era loiríssimo!
Mariana não deu muita atenção ao comentário de Júlia, a segunda foto era extremamente estranha, ela não sabia dizer o que tinha de errado ali, mas havia alguma coisa. E ela sentia alguma coisa estranha na atmosfera do quarto.
− Você acha que era algum amante? – perguntou Júlia, olhando a primeira foto.
− Tenho quase certeza disso! Você não lembra que antigamente as pessoas mais ricas não se casavam por amor?
− Hm... mas eles nem são tão antigos assim... Ah sei lá, viu? Também nem interessa, todo mundo já morreu mesmo. – concluiu Júlia. Jogou a foto dentro da caixa e olhou para Mariana.
Mariana não estava preparada para se livrar da foto, ela tinha que descobrir o que estava por trás dela.
− Posso ficar com essa foto?
− Por que você quer ficar com a foto mais esquisita e de um cara que ninguém sabe quem é? – perguntou Júlia, franzindo o rosto.
− Não sei, mas quero analisar essa foto com mais calma.
− Ela é meio sinistra.
− Talvez seja exatamente por isso. – respondeu Mariana distraidamente.


*** Fim da parte I ***


Espero que vocês tenham gostado, não se esqueçam de deixar um feedback :) sua opinião é importantíssima, porque se eu escrevesse só para mim, isso aqui ainda estaria na gaveta! 

Herança

Finalmente temos um primeiro conto no blog (na verdade, já estava pronto faz tempo, a preguiça mesmo era em relação os detalhes finais do blog em si)!
Espero que espero que gostem e deixem suas opiniões :)

Herança


Era um dia ensolarado, as pessoas não vestiam preto. Na verdade, todas haviam sido pegas de surpresa. Nenhum dos presentes parecia triste, apenas imerso a um estado de confusão.

Quem diria que Constantino um dia se mataria? Ele era sempre tão alegre, tão energético e gastava dinheiro feito louco, embora nunca tivesse trabalhado. “A vida dele era tão fácil! Talvez seja por isso que se matou” comentavam algumas idosas enquanto saiam do funeral.

E agora quem tinha a vida fácil era ele, Marco, sobrinho de Constantino, o velhote libertino. Marco herdara todos os bens de Constantino e ficou sabendo disso somente durante o funeral, quando sua prima o abordou:

- Está feliz? – perguntou Jéssica, ressentida. – Está feliz em ver a única filha daquele velhote inútil ir para o olho da rua?

- Jéssica, do que você está falando? – perguntou Marco já colocando a mão no bolso para sacar um lenço para a prima.

- Você herdou tudo, Marco! Tudo! O advogado vai falar com você sobre isso, parece que ele já marcou hora com a sua mãe. – a jovem suspirou. – Você sabe que a herança da nossa família só passa de homem pra homem, ninguém sabe o real motivo.

- Olha, você sabe que eu não vou te deixar na rua morrendo de fome. Seu pai tinha muito dinheiro, não tenho a mínima ideia do que fazer com isso. Aliás, a herança só vai para mim quando eu chegar a maior idade, falta um ano, ainda. – disse Marco sem saber o que pensar sobre o assunto, mas já certo sobre a situação de Jéssica.

- Obrigada, Marco! Você é tão bom! Ainda bem que o dinheiro foi parar em suas mãos, não nas de alguém louco como meu pai. Ele era muito estranho, sabe?

Marco sabia. O tio era de fato uma pessoa peculiar, apesar de seu temperamento alegre, havia momentos em que o brilho de seus olhos mudava, o rapaz não sabia se era de ódio ou desespero, talvez beirassem as duas emoções.

- E, mais uma coisa: você não espera até os 18 anos para herdar tudo, há uma clausula explícita de que você deve se apossar de tudo imediatamente.

***

O garoto chegara à casa de Constantino, ou melhor, a sua casa, perto das seis da tarde. Jéssica o esperava com chá e alguns bolinhos cujo gosto era impossível de ser identificado e que eram muito ruins.

Durante o chá e a conversa com a prima, Marco sentia que algo o chamava. Era como se ele estivesse sendo atraído para um polo que fosse oposto ao seu. Quando Jéssica começou a recolher tudo para a cozinha, a atração ficou ainda mais forte e impossível de se resistir.

Ele começou a andar em direção ao desconhecido que o aguardava. Subiu o primeiro lance de escadas, o andar dos quartos, subiu mais outro, o andar reservado aos quartos de jogos e televisão, e, por fim, chegou ao último andar.

Ao terminar de subir as a escadas, ele se deparou com uma porta, pertencente a um cômodo que deveria ocupar todo o andar.

Tocou na maçaneta. Seu coração disparou, gotas de suor começaram a brotar no topo de sua testa, os pelos de sua nuca se arrepiaram. Marco sabia, que ao abrir aquela porta, sua vida mudaria para sempre.

Então ele a abriu.

- Não tenha medo, querido. – disse uma voz feminina acolhedora.

Ele deu alguns passos dentro do cômodo, uma enorme biblioteca composta por várias estantes de mogno cobertas por uma infinidade de livros. A luz era fraca, mas ele conseguia ver a mulher, que estava parada perto de uma das mesas de leitura, com nitidez.

- Quem é você? – perguntou Marco debilmente, encarando uma mulher de meia idade vestida de verde escuro e com os cabelos grisalhos presos em coque alto.

- A matriarca da família, é claro! –respondeu ela com um sorriso. – Ah! É sempre a mesma coisa, essa carinha confusa... Deixe-me explicar tudo isso. E preste muita atenção, pois esse é o seu destino.

“Há muito tempo, digamos, há mais de mil anos, minha mãe, uma sacerdotisa corrompida que queria se redimir, me deu a luz. Nasci com um poder muito especial e aprendi a controlá-lo desde criança: posso invadir a mente de qualquer pessoa mal intencionada nesse mundo. Meu dever é torturá-los psicologicamente, implantando pesadelos e visões irreais em suas mentes, levando-os a loucura e fazendo com que peguem pelo mal que planejavam fazer. Veja, são dois coelhos numa cajada só: eles pagam pelo mal, mas ao mesmo tempo esse mal não fora concretizado.”

Marco estava confuso. Como ela poderia ter vivido mais de mil anos? Como ela fora parar aqui no Brasil...?

- Navio, bobinho. Como foi que os antepassados de todo mundo, com exceção dos índios, chegaram até aqui? Mas temos questões mais importantes a tratar do que a colonização. Como eu vivo eternamente? É aí que você entra: uma vez por mês, você terá de matar uma pessoa honesta de forma discreta, que faça parecer um acidente. Depois, você pega essa seringa – indicou uma caixa de madeira e a abriu, exibindo a maior seringa que Marco já vira. – e retira o sangue dessa pessoa e o leve para mim.

- Mas se você castiga os de má intenção, por que precisa de sangues honestos? – Marco ainda não acreditava no que estava ouvindo.

- Preciso reabastecer minha energia com esse sangue. Mais vale matar alguém honesto uma vez por mês do que deixar que 20 deles morram nas mãos de mal intencionados.

- P...Por que e...eu?

- Porque você é um ser humano do sexo masculino. Vocês possuem mais forças, herdam meu sangue diretamente. As do sexo feminino só herdam meu sangue diretamente a cada cem anos, além disso, caso alguma coisa dê errado, as minhas meninas não deveriam sofrer tanto quanto os homens, afinal elas são do mesmo gênero que o meu, temos que nos proteger.

- A Jéssica...

- Não, ela nem sonha com a minha existência. Agora vá! Aproveite sua casa. O trabalho virá em breve.

***

Vinte dias se passaram desde o estranho diálogo como uma criatura que ele não sabia o que era. Não era uma vampira... Era... Indefinido. Marco não conseguia parar de pensar nisso, na vida que ele tem agora, no seu destino engessado numa matriarca maluca e contraditória.

O medo percorria seu corpo o tempo todo, bem como a ansiedade, ele não queria matar ninguém.

Às nove horas da manhã daquele dia, ele ouviu, em sua mente, a voz da matriarca: Está na hora. Vá ao centro da cidade. Eletricista, 27 anos, pai de família.

Marco congelou. Ele não podia fazer aquilo. Não mesmo!

Ainda assim, ele foi.

Tudo aconteceu rapidamente, ele descobriu que podia ser veloz e forte. O assassinato foi imediato, mas ele cometeu um erro gravíssimo: olhou nos olhos da vítima, olhos tristes pela morte evidente, por deixar sua família na mão e por muitas outras razões. Olhos honestos.

- Foi por uma boa causa. – disse a matriarca totalmente despreocupada. – Evite olhar para os olhos da vítima na próxima vez.

Quatro meses se passaram, quatro vítimas assassinadas. Marco sentia que uma parte de sua alma era perdida a cada assassinato. Jéssica achava que ele estava desenvolvendo depressão, então o mandou para um psicólogo. Assim, ele passou a fingir que tomava os remédios para depressão, pois sabia que eles não fariam efeito.

E se eu saísse da aqui? E me recusasse a alimentá-la? Seria perfeito, ela logo morreria, afinal, é o sangue que a deixa viva. Pensou o jovem, esperançoso. Ele teria que passar muito tempo sem aparecer naquela casa, era só o que sabia. Ela deveria morrer em cinco meses, no máximo, pois passaria a passar fome a partir da próxima semana se ele partisse imediatamente.

Dessa forma, ele não esperou mais. Comprou passagens de emergência para a França, país que sempre quisera conhecer, agendou sua estada em um albergue nos arredores de Paris e arrumou sua mala. Despediu-se de Jéssica, que ficou atônita com essa mudança de ares repentina, mas entendeu que seria melhor para ele.

Abriu a porta da frente e colocou o pé direito para fora da casa.

Ora, ora, ora! O que temos aqui? Disse a voz conhecida de sua matriarca. Um mal intencionado! Que garoto malvado! Deixar a matriarca morrendo de fome? Aposto que se achou muito sagaz ao bolar o plano. Adivinhe só: você não é o primeiro. Acha que seu tio ficou louco porque era rico sem esforço? 

Uma risada absurdamente alta ecoou na mente do rapaz. E Marco recuou para dentro de casa.

*Fim*