A fotografia (parte II)

Boa noite, caros leitores, como vão? 

Finalmente chegou a segunda parte do conto A fotografia (leia a primeira parte aqui). Espero que vocês gostem (e não se esqueçam de dar seu feedback)!

A fotografia (parte II)

A segunda-feira começou normalmente para Mariana. Não teve tempo para tomar café da manhã com Henrique, seu namorado, com quem dividia a pequena casa, que ficava bem exprimida entre dois prédios residenciais. Assistiu às aulas na faculdade, almoçou sanduíche enquanto tagarelava com Sabine e chegou tranquilamente ao seu estágio de aprendiz de restaurador de obras de arte. 
              − Semana que vem vamos mudar de museu. É um bem pequenininho, de bonecas. - anunciou Clarisse, sua chefe. 
Uau! Deve ser super interessante! Que tipo de bonecas? - respondeu Mariana, ainda distraída ou retocar o que deveria ser uma pincelada preta em uma pintura a óleo. 
− Bonecas do século XIX. Aliás, seu celular não parou uma vez sequer essa tarde. 
− Verdade? Que estranho, não estou esperando nada. Depois eu vejo, deve ser trote.
Às seis horas, quando finalmente saiu do museu, Mariana consultou o celular: Nada mais, nada menos do que 113 ligações perdidas de Henrique, além de várias mensagens perguntando onde ela estava e se poderia sair mais cedo.
Preocupada, foi para a casa o mais rápido possível, nem passou na padaria apesar de estar morrendo de fome.
Encontrou Henrique sentado na caçada do outro lado da rua com uma expressão emburrada.
O que aconteceu?
Por que você não atendeu o celular? Onde você estava?
− No estagio! Você sabe disso e sabe que não atendo o celular lá também. É anti-profissional. 
Henrique revirou os olhos, irritado e cansado. 
A casa tá cheirando mal, tipo, podre! Não dá pra ficar lá dentro.
Mariana decidiu não fazer perguntas, indo diretamente a casa. Ao chegar, não sentiu cheiro algum. Sinalizou para Henrique, querendo dizer que ele poderia entrar sem problemas. 
 − Ué? − murmurou confuso. − Juro que tava horrível aqui! Eu até vomitei ali na lixeira do prédio lá! 
Não sei o que foi, mas relaxa que já passou. 
Os dois saíram para jantar comida japonesa e voltaram uma hora depois. Felizmente, a casa continuava normal, nenhum cheiro podre, nenhum animal morto ou objetos quebrados. 
Vem, vamos assistir a algum filme, sua tarde foi muito ruim. − convidou Mariana.
− Mas nenhum filme longo, você sabe que amanhã eu tenho que ir a empresa.
Escolheram Tudo pela Fama, era um filme engraçado e leve. O cheiro misterioso e o fato de ter passado a tarde toda dando voltas no quarteirão, lendo um livro muito chato que pegara emprestado (e que ia ser abandonado se não fosse por toda a situação), havia deixado Henrique exausto e mal humorado, mas agora tudo tinha passado, estava com Mariana, beijando cada gotinha que tinha respingado durante o trabalho dela. 
O filme terminou, Henrique continuou deitado preguiçosamente no sofá da sala, enquanto Mariana se levantou em um salto para tomar banho antes de ir para cama. 
Toc, toc. 
Os jovens se entreolharam. 
− Foi na janela? − perguntou Mariana em voz baixa.
Henrique se levantou e pegou o taco de baseball escondido atrás de um dos armários da cozinha.
Toc, toc, toc.
As batidas eram ritmadas, como se fosse um código que Mariana não conseguia compreender.
Henrique caminhou de forma mais silenciosa possível até a porta da cozinha, sairia por lá e surpreenderia qualquer um que estivesse ali. Quando abriu a porta, um vento muito frio atravessou seu corpo e, suando frio, respirou fundo e pôs-se a mover com passos largos e lentos.
Toc, toc, toc, toc.
Ele estava chegando perto do indivíduo, conseguia ver sua sombra.
Toc, toc...
Henrique não esperou mais, saltou em direção à sombra e ao barulho.
Não havia nada e ninguém estava ali.
Confuso, Henrique analisou a grama do jardim, em busca de pegadas, olhou para a janela, não soube se ficava feliz por saber que ele e Mariana não estavam loucos ao ouvir as batidas ou se ficava com medo por ter certeza de que elas eram reais, a única coisa que ele sabia era que a janela estava suja de terra.
Olhou tudo a sua volta, mas não havia nada para ver. Entrou pela cozinha e trancou a porta, tinha medo do que havia acontecido. Mariana estava sentada à mesa, esperando por explicações, ele contou o que havia visto.
— O dia já foi estranho o bastante. Vamos pra cama, isso se nós conseguirmos dormir.
Tomaram chá de camomila para se acalmarem, verificaram se todas as janelas e portas estavam fechadas e trancadas, por precaução, também trancaram a porta do quarto.
***
Eram três da madrugada quando Mariana levantou para buscar um copo d’água. Ela estava cansada e sonolenta demais para lembrar com clareza das coisas estranhas que haviam acontecido no dia anterior.
Pegou um copo de vidro no armário, enquanto o enchia de água, olhou para frente, para a janela da cozinha. Com uma exclamação silenciosa, deu um passo para trás e deixou o copo cair no chão, espatifando.
Um homem a encarava, ela não conseguia enxergar seus traços com clareza, apenas seus olhos, que pareciam imensamente tristes e desesperados. Por alguns segundos ela pensou em abrir a porta e lhe oferecer ajuda, não poderia deixar aquele homem lá fora.
Toc, toc.
A mão do homem bateu na janela. Mariana deu passos para trás, em busca do caminho de volta.
Toc, toc, toc.
Ela se virou para voltar para o quarto e acordar Henrique.
Toc, toc, toc, toc.
Ela não conseguia mais respirar, o pânico a dominava. No entanto, de alguma forma, ela conseguiu entrar no quarto e trancar a porta.
Henrique levantou da cama e foi em direção a Mariana, que correu para perto da cômoda, ficando distante da porta e da janela. Ela estava tremendo e não conseguia falar sobre o que havia visto.
Toc, toc.
Dessa vez, as batidas vinham da porta de madeira do quarto. O mundo pareceu parar.
Toc, toc, toc.
Mariana gritou e bateu as costas na cômoda, fazendo com que um papel caísse lentamente no chão.
Toc, toc, toc, toc.
Henrique se agachou e pegou o papel, que, na verdade, era uma foto.

— Mari, por que você tem uma foto post mortem?

*** Fim da parte II ***

King Edgar Hotel (antologia)

Boa tarde, meus queridos leitores, como vão vocês?

Ansiosos pela segunda parte de A fotografia? Infelizmente não será hoje que ela será postada, mas fiquem atentos, pois, na próxima quarta-feira, a segunda parte estará bem fresquinha por aqui!

Hoje venho falar da antologia King Edgar Hotel, da Andross Editora, na qual meu conto, Constance, se encontra no quarto 67. Essa antologia foi um projeto especial, anunciada na 4ª edição do Livros em Pauta. Cada conto se passa em um quarto diferente do estranhíssimo hotel e foi criado especialmente para a antologia (o que significa que os contos que estavam na gaveta continuaram lá).

As bonecas foram presente da vovó quando eu e minha irmã éramos crianças. Estão lindas como modelos, né? Foco no livro!!!

Sinopse: Você se hospedaria em um antigo hotel onde a camareira não tem braços, o mensageiro não tem olhos e o recepcionista aparenta ter idades distintas dependendo da hora do dia? Você ousaria pernoitar em um lugar cujo regulamento interno é estranhamente diferente de tudo o que você já viu? Muitos mistérios rondam o King Edgar Hotel. Fique à vontade para visitar os 21 andares deste lugar, que é a expiação dos pecados para uns, o inferno para outros e uma lembrança macabra para todos os que por ele passaram.

Modéstia à parte, King Edgar Hotel está incrível! Toda a equipe da editora, os organizadores e todos os autores se dedicaram ao máximo para fazer um trabalho bem especial.
Há muitos tipos de contos na antologia, podemos encontrar aqueles que são mais suspense, os que são de investigação, os que tratam da loucura, de espíritos e até aqueles que são bem sangrentos. Resumindo: terror e suspense para todos os gostos.

Para mim foi uma honra poder participar do KEH, trabalhando mais uma vez com o Alfer Medeiros, que sempre consegue arrancar de mim o melhor que tenho a oferecer como escritora, também foi ótimo experimentar trabalhar com a Lara Luft, que, juntamente com outro companheiro de hotel, fizeram marcadores marcadores lindos para acompanhar a antologia. Além disso, nessa antologia podemos encontrar o conto de uma das minhas melhores amigas, Verônica Cocucci Inamonico (do Only The Strong Survive), coincidentemente o conto dela vem logo depois do meu!

Ficou interessado/interessada? Entre em contato pelo e-mail luiza.canto@outlook.com para adquirir seu exemplar!


Em breve teremos uma super novidade no blog, fiquem de olho!

A fotografia - parte I + KEH

Bom dia, queridos leitores! Depois de muito tempo com apenas um conto aqui no blog, finalmente teremos mais um! Decidi dividi-lo em partes para ficar mais fácil para aqueles que só querem dar uma passadinha rápida por aqui e não ficarem muito perdidos na hora de voltar à leitura. 

E mais uma coisa: os que acompanham a página do blog pelo facebook devem estar se perguntando, mas e a antologia da Andross, King Edgar Hotel, que seria lançada dia 19/05? Ela foi lançada!!! Porém, não pude comparecer ao evento, então estou na espera dos exemplares aqui em casa! Dizem que que está incrível e, assim que eles chegarem, farei um post especial para quem estiver interessado em adquirir algum exemplar, aguardem :D 

Agora vamos ao que interessa:


A fotografia - parte I

− E aí? Como você está? – perguntou Mariana ajeitando seus cabelos vermelhos em um coque no topo da cabeça enquanto entrava na casa da melhor amiga.
− Sei lá, me sinto estranha... – respondeu Júlia a caminho de seu quarto. – Eu nunca fui tão próxima da minha avó e, tipo, ela me deixa uma super caixa de joias!
O quarto de Júlia não era um dos mais organizados, na verdade, Mariana tinha quase certeza de que era o quarto mais bagunçado que já havia entrado. Havia roupas espalhadas pelo chão, não se sabia se elas estavam sujas ou limpas, pilhas de livros sob a cômoda (e o que não cabia da cômoda, também ia para o chão), fotos das duas e de outros amigos espelhadas pelas paredes. A cama de Júlia ficava no centro do quarto, com uma das extremidades encostada na parede.
Sentaram-se na cama e Júlia pegou a caixa de joias que estava sob o criado mudo. Era uma caixa de madeira trabalhada em detalhes trançados, provavelmente feita à mão, as partes de metal estavam desgastadas e rangeu quando a caixa foi aberta.
Lá dentro continha vários colares e brincos de pérolas, fazendo com que as jovens soltassem exclamações e com que seus olhos brilhassem fascinadas pelas joias. Também poderiam encontrar alguns brincos delicados com pedrinhas de rubi e um colar de esmeralda.
Passaram a próxima hora inteira experimentando as joias e fazendo piadas uma com a outra. O pai de Júlia as chamou para fazerem um lanche da tarde, parecia um domingo bem tranquilo.
− Já experimentamos todas as joias? – perguntou Júlia ao voltarem para o quarto.
− Acho que sim. – respondeu Mariana olhando para a caixa com mais atenção. – Ei, não parece que tem um fundo falso ali?
Júlia riu. Mariana parecia sempre ver coisas além da realidade, ela nunca aceitava que a vida real era monótona e sem grandes aventuras. No entanto, para deixar a melhor amiga tranquila, resolveu averiguar o fundo da caixa que, para sua surpresa, possuía um fundo falso.
− Ah. – suspirou Júlia meio decepcionada e esperando uma decepção ainda maior por parte de Marina. – São só duas fotos de um cara sem graça.
− Posso ver?
Júlia entregou as fotos à Mariana.
Ela pegou uma foto em cada mão, uma parecia razoavelmente mais velha que a outra. Na mais antiga, o homem era jovem, portava roupas da década de 1930, seus cabelos negros estavam bem ajeitados com a ajuda de muito gel e ele segurava um chapéu claro, que deveria ser da mesma cor que o terno, com a mão esquerda. Ele parecia bem feliz e simpático. Na segunda, datada de 1944, ele estava sentado em uma grande e aparentemente confortável poltrona, ele tinha um aspecto doente, seus olhos pareciam meio inchados, meio saltados para fora, e sua boca estava semiaberta, embora seus cabelos continuassem bem arrumados e suas roupas apresentavam uma qualidade melhor do que na primeira foto. 
− Joaquim, fevereiro de 1944. – leu Mariana em voz alta.
− De onde surgiu esse cara? Ele não é meu bisavô, já outras fotos dele antes, pra você saber a diferença, meu bisavô era loiríssimo!
Mariana não deu muita atenção ao comentário de Júlia, a segunda foto era extremamente estranha, ela não sabia dizer o que tinha de errado ali, mas havia alguma coisa. E ela sentia alguma coisa estranha na atmosfera do quarto.
− Você acha que era algum amante? – perguntou Júlia, olhando a primeira foto.
− Tenho quase certeza disso! Você não lembra que antigamente as pessoas mais ricas não se casavam por amor?
− Hm... mas eles nem são tão antigos assim... Ah sei lá, viu? Também nem interessa, todo mundo já morreu mesmo. – concluiu Júlia. Jogou a foto dentro da caixa e olhou para Mariana.
Mariana não estava preparada para se livrar da foto, ela tinha que descobrir o que estava por trás dela.
− Posso ficar com essa foto?
− Por que você quer ficar com a foto mais esquisita e de um cara que ninguém sabe quem é? – perguntou Júlia, franzindo o rosto.
− Não sei, mas quero analisar essa foto com mais calma.
− Ela é meio sinistra.
− Talvez seja exatamente por isso. – respondeu Mariana distraidamente.


*** Fim da parte I ***


Espero que vocês tenham gostado, não se esqueçam de deixar um feedback :) sua opinião é importantíssima, porque se eu escrevesse só para mim, isso aqui ainda estaria na gaveta!