#Promoção: De férias no King Edgar Hotel!

Fim de ano só pode significar uma coisa: férias! E que tal aproveitá-las com a estada em um hotel bem peculiar?
Pensando nisso, o Only The Strong Survive uniu-se ao Delírios do Gato Preto para trazer essa promoção em dose dupla para os nossos leitores!
Serão dois exemplares autografados da coletânea King Edgar Hotel da qual nós duas, Luiza e Verônica, somos co-autoras. Não deixe de aproveitar a oportunidade e, de quebra, de saber um pouco mais sobre o desafio literário do Delírios do Gato Preto, documentado pelo IG do blog, @deliriosdogatopreto! Também confira o Only The Strong Survive, uma fofura de blog em que há resenhas de milhões livros de gêneros variados!


Vamos às regras?

A fotografia (parte III - final)

Boa noite, leitores! Como prometido no último post, aqui está a a terceira e última parte d'A fotografia :) (leia a parte I e a parte II)

Essa parte é a maior parte do conto, até pensei em dividi-la em duas, mas já temos fragmentos demais por aqui, não é mesmo?

Se divirtam! E não esqueçam de deixar suas opiniões!

A fotografia (parte III - final)

— O quê? — perguntou Mariana, com alguma dificuldade.
As batidas pararam repentinamente.
— O cara da foto está morto. — disse Henrique.
Mariana revirou os olhos e levantou as mãos para o alto, aquela afirmação era tão obvia, qualquer um daquele tempo já havia morrido, seu namorado deveria sofrer de um retardamento mental, não era possível.
— Ele está morto aqui! — Henrique aumentou o tom de voz. — Essa é a foto do corpo dele.
Mariana olhou fixamente para o jovem por alguns segundos e, prendendo a respiração, pegou a foto das mãos dele. Aqueles olhos, inexpressivos e inchados a encaravam, seus ombros estavam rígidos, sua pele, pálida. Por que ele estava ali naquela foto? Era por isso que ele ainda estava no mundo dos vivos? Como ele se sentia agora, frustrado? Com raiva? O que os mortos poderiam fazer aos vivos?
Sentindo-se tomar pelo pânico novamente, Mariana respirou fundo. Tinha de haver algum jeito de acabar com tudo.
— Bom, então é ele que está assombrando a gente. Peguei essa foto com a Júlia, estava na caixa de joias da bisa dela.
— Você fala isso como se fosse a coisa mais simples do mundo!
— É só rasgá-la e acaba tudo.
— Não! — gritou Henrique, arrancando a foto de Mariana. — Talvez ele fique preso aqui, sei lá! Acho que devemos procurar ajuda profissional.
— Ajuda profissional? Onde?
— Amanhã a gente vê, estou muito cansado agora e parece que o cara vai dar algum sossego pra gente.

***

— Como assim? — Júlia arregalou os olhos e se levantou para olhar a foto que estava sobre a mesa da praça de alimentação da faculdade.
— Não vai acontecer nada se você a tocar. — informou Henrique, impaciente com aquela situação.
— Sabe, a gente poderia ir à fazenda ver o que o pessoal sabe. Essas histórias sempre são contadas entre os empregados.
— Meu, a fazenda fica a uma hora daqui, eu estou no meu horário de almoço, a Mari tem estágio...
— Mor! Olha, minha chefe é bem compreensiva...
— “Clarisse? Sou eu, Mari. Olha, tem um fantasma me assombrando e vou investigar sobre ele, por isso vou faltar no serviço, beijo!” — replicou Henrique, imitando a voz de Mariana.
— Para com isso. Vou falar que estou com problemas em casa e que preciso resolvê-los.
— Excelente desculpa. Se você não quiser ir com a gente, pode ficar procurando essas pessoas aí, aquelas que mexem com espíritos e tal. Compare os preços, tem cigano muito careiro por aí. — falou Júlia, pegou rapidamente sua bolsa e colocou os óculos escuros. — Vamos?
Henrique apenas cruzou os braços e as observou sair

***

— Parece que agora já era mesmo. — constatou Antônio descendo as escadas depois de tentar consertar o ar condicionado.
Todos no escritório suspiraram, desanimados. Henrique tirou o celular do bolso, nenhuma mensagem das garotas, irritado, resolveu passear pela sala, talvez pegasse um café, mas não estava com vontade. 
— Como você consegue? Está tão quente aqui e você aí, andando de um lado para o outro e, agora, pegando café!
Marlene era sempre assim, por que ela simplesmente não fica apenas o dia inteiro no Facebook vendo as vidas felizes dos outros, por que ela tem que prestar atenção em um colega de trabalho aleatório? Henrique lhe lançou um olhar de desprezo, que pareceu não afetá-la, e voltou a sua mesa.
Abriu a janela do Google Chrome, demorou alguns instantes para digitar qualquer início de palavra, por fim escreveu: fotos assombradas. O resultado foi péssimo, encontrou milhões de sites citando a Menina do Corredor, achou até graça, fazia muito tempo que não ouvia ninguém comentando sobre aquela história, mas, depois de um tempo passando os olhos por links vazios e sensacionalistas, decidiu apelar e pesquisar por ciganos, também não obteve resultado.
Frustrado, ele se levantou outra vez, pegou outro copo de café e fingiu não ver os olhos impressionados de Marlene.
— O que você procura? — perguntou Marlene, sua voz parecia um tanto desafinada, provavelmente estava com medo de uma segunda rejeição.
O jovem se virou lentamente para a colega, pediu a Deus por paciência, achou até engraçado pensar em Deus naquele momento confuso.
— Eu sei que você está preocupado com algo que não é deste mundo. — finalmente ela ganhara sua atenção. — Não tenho habilidades muito avançadas, sinto algumas presenças invisíveis, mas não faço contato. Minha prima é uma sensitiva excelente, ela pode ajuda-lo.
— Podemos vê-la quando sairmos? — de repente, sentiu-se culpado por julgar Marlene, ela poderia ser uma fofoqueira, mas no fundo era uma boa pessoa.
— Mas é claro!

***

— Bom, foi uma história de amor super dramática, linda e triste! — comentou Mariana, ao sentar-se atrás do banco do motorista, Marlene ocupava o banco do passageiro da frente.
— Linda e triste mesmo! Tudo começou quando a bisa estava voltando de Santos e o motor do carro pifou ou coisa assim, vai saber, esses carros de antigamente eram tão ruins que nem sei como andavam...
— Andem logo com essa história, não preciso de detalhes, só das informações objetivas. — interrompeu Henrique, impaciente.
As garotas se entreolharam aborrecidas, era uma história ótima para se contar, cheia de detalhes que contribuiriam para transmitir as emoções, fora por isso que Mariana e Júlia passaram duas horas na fazenda, conversando com Joana, a cozinheira. Contudo, o espírito de Joaquim parecia desesperado, talvez ele não suportasse mais a pior prisão em que um ser humano poderia ficar ou então talvez houvesse um tempo limite para que ele pudesse ser liberto, algo que poderia estar em um filme de suspense.
— A bisa era filha de um... homem de negócios, podemos dizer, muito rico. Claro que era esperado que ela se casasse com um homem rico que pertencesse a uma família tradicional para poder manter o sangue azul. Mas ela conheceu Joaquim, ele era ajudante do açougue da cidadezinha do lado, eles se apaixonaram perdidamente e começaram a ter um caso escondido. Depois de um ano, os dois não aguentavam mais, eles tinham que viver juntos e felizes para sempre! Eles planejaram a fuga com muito cuidado, mas um dos empregados da casa da bisa descobriu os planos e contou para o pai dela. Joaquim foi forçado a se mudar para uma fazenda perto de Cuiabá, passando a trabalhar para um colega do pai dela.
— Então ele não era tão mau! — exclamou Marlene, esperançosa como se tivesse esquecido o fim trágico do espírito de Joaquim.
— É, poderia ter sido pior, mas, naquela época, viajar de lá pra São Paulo era difícil, principalmente pra quem era pobre. O pai dela esperava que eles nunca mais se vissem e, como estava tirando Joaquim de seu emprego e o mandando para um lugar desconhecido, nada mais justo do que dar um emprego para ele. — comentou Mariana. — Continuando, a bisa da Júlia se casou alguns meses depois, com o filho de outro colega do pai dela, tiveram apenas um filho, como a sociedade esperava deles. Quase 15 anos haviam se passado quando ela e Joaquim se encontraram novamente.
— Ai meu Deus! Como foi isso? — perguntou Marlene, virando-se para que pudesse ver as garotas no banco de trás.
Henrique estacionou o carro ao lado de um terreno vazio, com o mato alto e contido por uma cerca de arame. Todos desceram do carro e Marlene apontou para uma casa pequena e verde que aparentava mal cuidada e desgastada.
— Ele mesmo voltou a São Paulo atrás dela. — respondeu tardiamente Júlia, ao parar na frente do portão da casa indicada. — Conseguiu descobrir o nome de casada da bisa e seu novo endereço. Ele apareceu lá de repente, deve ter sido muito emocionante! Ela o contratou como jardineiro e passou a morar numa casinha que ficava dentro da propriedade. Meu bisa sabia do caso, ele era tranquilo, acho que ele também tinha sido um frustrado no amor. Acontece que a felicidade não durou quase nada, oito meses depois, Joaquim pegou pneumonia e morreu, mesmo com todos os cuidados que os bisas puderam oferecer. A bisa ficou extremamente abalada, exigiu que tirassem uma foto dele dentro da sala de estar da casa dela, queria um registro de que eles realmente voltaram a ter a presença um do outro.
— E ele acabou se tornando uma alma penada que, supostamente, só consegue passear pelo mundo em um raio de 20 metros de onde a fotografia está.
Todos, exceto Marlene, viraram-se assustados para a mulher que estava parada atrás deles, à princípio aparentava ter surgido do além, mas logo viram que ela carregava uma sacola de pães. 
Ela e Marlene poderiam ser tidas como gêmeas, mas Marlene era gorda e estilosa, enquanto a prima, magra e desleixada. A casa reflete o dono, pensaram todos, automaticamente.
Entraram na casa e se sentaram à mesa da cozinha, Cintia, a prima de Marlene, arrumou a mesa, colocou os pães em uma cesta e os deixou no centro, ofereceu chá e sucos às visitas.
Mariana olhou para Henrique, seu olhar estava confuso e começou a balançar a perna direita freneticamente para cima e para baixo. Também confuso, Henrique se pronunciou.
— Então você sabe por que viemos aqui.
— Sei, sei muito bem, parece que não estão muito dispostos a fazer um lanchinho, não é? — Cintia suspirou e olhou para sua diagonal, atrás do jovem. — A fotografia...
Henrique a deu para Cintia, que olhou novamente para a diagonal, provavelmente Joaquim estava ali. Ela a olhou, depois olhou para todos os presentes, levantou-se.
Ouviu-se um barulho de papel sendo rasgado. Cintia caminhou até o lixo e lá jogou o que sobrara da fotografia.
— O que você fez? — gritou Júlia, chocada e levantando-se em um salto, mas setando-se novamente, aflita.
— A fotografia não interfere em nada! — Cintia aumentou o tom de voz. — Espíritos não ficam presos ao mundo por causa de fotos tiradas quando morto. Esse tipo de foto era moda antigamente.
Ela olhou para o espaço vazio.
— Você ficou aqui porque achou que deveria ficar perto de Heloísa. Quando ela morreu, ela, que não possuía nada que a prendesse aqui e acreditando que te encontraria do outro lado, passou para o outro mundo. Sabe por que você não foi junto? Porque você não aceitou a sua morte e colocou a culpa na fotografia, você mesmo se convenceu de que ela o prendia aqui. Não posso fazer nada por você. Você deve descobrir o seu caminho por si mesmo, fique a vontade para rondar por aí.
Todos permaneceram imóveis, até que Mariana se levantou lentamente, como se estivesse em transe.
— Vamos?
— Como assim? — perguntou Henrique.
— Ué, não temos mais o que fazer, é o psicológico dele que o está mantendo aqui.
— Talvez devêssemos chamar um padre para exorcizar o Joaquim. — sugeriu Júlia, ainda sentada, mas tremia visivelmente.
— Não tem que chamar padre, farei uma terapia com ele. Ele não entende o que está acontecendo ou não acredita.

***

Mariana e Júlia estavam assistindo ao Are you the one? quando Henrique entrou na sala completamente eufórico.
— Aqui! O fechamento do nosso caso! — ele falou erguendo o celular para o alto.
Ele deu o celular à Mariana, as duas leram o email que era exibido pela tela:
Não se preocupem com o Joaquim. Tivemos conversas e discussões muito sérias nos últimos três dias. Depois de um passeio ao lugar que falecera, Joaquim finalmente entendeu a morte. Tenho fé de que agora ele está em paz e com a Heloísa do lado dele.
Abraço,
Cintia.